capítulo três: práticas culturais na socialidade indígena



calendário cultural
como vimos, as práticas culturais indígenas também se diferenciam das artes ocidentais devido às sociedades indígenas não terem museus;
nos museus são expostas as obras de arte, que são os artefatos simbólicos produzidos pelos artista como manifestação cultural;
as práticas culturais indígenas não são objetos de museu;
para além das técnicas de produção de instrumentos do cotidiano, as práticas culturais indígenas são marcadas pela importância de diversas cerimônias rituais;
essas ocasiões podem celebrar diversas situações: agradecimentos, jornadas míticas, casamentos ou nascimentos, batizados ou nominações, passagem para a vida adulta;
em grande parte das sociedades indígenas, são essas cerimônias – sempre sincronizadas com os movimentos do ecossistema – que norteiam o calendário;
muitas vezes as próprias escolas indígenas se organizam a partir desses calendários;
os calendários podem conter as festas tradicionais, as cerimônias rituais, a melhor época do ano para cada atividade, a época do ano para a fabricação de instrumentos (tecelagem, cerâmica, arcos, flechas e lanças, armadilh
as);


pesquisa
elabore atividades de pesquisa com os estudantes sobre os ciclos culturais e naturais;
essa atividade pode ser associada com outros conhecimentos ou áreas de saber;
elabore uma atividade de construção de um calendário cultural;
utilize as formas de expressão cultural, tais como desenhos, madeira, músicas, tecelagem, trançados;
a época em que se colhe o algodão, em que se têm as tintas, o tempo do jenipapo para a pintura corporal, tempo do barro para a cerâmica, de tirar a madeira para o arco, ou a palha para a casa;
fazer uma atividade ou um grupo para o calendário solar (período que os ocidentais chamam de ano) e outro para o calendário lunar (período que os ocidentais chamam de mês), muito importante para as atividades dos povos indígenas;
restrições 1
as práticas culturais consistem na forma criada pelos povos indígenas para a organização de sua socialidade;
elas permitem decifrar o código elaborado por esses povos para se relacionar com a vida do cosmos;
esse código estabelece deveres e restrições estabelecidos para pautar essas relações sociais e cosmológicas;
a questão das restrições no código das práticas culturais indígenas orientou o debate sobre a nossa experiência com o ensino de 'artes', conforme expressão proposta em nossos referenciais curriculares;
os textos sobre educação indígena e os documentos elaborados pelo governo parecem simplificar a relação entre a escola indígena e o mundo ocidental;
o exemplo em questão se refere à identificação das práticas culturais indígenas com as chamadas 'artes' ocidentais;
no entanto, nossa discussão apontou para a necessidade de se debruçar também sobre as diferenças entre umas e outras práticas culturais;
o elemento místico ou sagrado que caracteriza muitas das práticas culturais indígenas foi um dos temas debatidos;
enquanto a produção de arte contemporânea tende ao laico e ao comercial, as práticas culturais indígenas persistem investindo a cosmologia desses povos;
o processo de aprendizagem dessas práticas se diferencia por suas especificidades;
entre outras, foram apontadas: os momentos certos, os espaços adequados, o tempo de aprendizagem de cada pessoa, o interesse, a força do conhecimento, aprendizagem solitária, segredos da iniciação, autorização para uso dos conhecimentos, critérios de transmissão;





atividade
a partir daí, elabore uma comparação entre o ensino na escola e a aprendizagem nas práticas culturais da tradição indígena;



práticas culturais e história
cerimônias e festas tradicionais

o estudo das práticas culturais indígenas pode ser associado com outras disciplinas;
associado à disciplina de história, faça um levantamento das cerimônias que ocorriam no tempo dos mais antigos da comunidade;
no caso dos festivais, comente cada uma das brincadeiras que são praticadas, seja do lado dos homens, como do lado das mulheres;


alimentação e festas tradicionais

fazer piarentsi
piarentsi é uma bebida fermentada de mandioca, feita pelas mulheres, podendo também ser preparada com a pupunha; reunir-se para beber piarentsi constitui o modo mais freqüente e mais significativo de interação social vigente entre os ashaninka; há sempre disposição quando se fala em fazer ou beber piarentsi; fazer piarentsi envolve várias etapas que contam com a participação masculina e feminina;

fonte: etnografia preliminar dos ashaninka da amazônia brasileira

faça uma pesquisa sobre o espaço reservado à alimentação nas festas e cerimônias tradicionais
roteiro: o que se prepara, a partir do que, como se prepara, quem prepara, quem faz o que, o que é utilizado, quais os procedimentos, que instrumentos se utiliza, como o alimento entra no ritual, quais as histórias e mitos ligados à alimentação ou à bebida cerimonial etc;
as comidas e bebidas possuem diversos significados místicos, míticos e simbólicos que podem ser explorados na pesquisa de acordo com a cerimônia estudada;
sugestão: a pesquisa da alimentação nas festas tradicionais pode ser dividida na sala entre atividades masculinas e atividades femininas;

uma oposição muito clara organiza e domina a vida quotidiana dos quaiaqui: aquela os homens e das mulheres, cujas atividades, marcadas fortemente pela divisão sexual das tarefas, constituem dois campos nitidamente separados e, como aliás em todos os lugares, complementares;
a floresta e o acampamento encontram-se assim dotados de signos contrários conforme se trate de homens ou de mulheres;
podemos então medir o valor e o alcance da oposição sócio-econômica entre homens e mulheres porque ela estrutura o tempo e o espaço dos guaiaqui; e eles têm uma consciência clara disso e o desequilíbrio das relações econômicas entre os caçadores e suas esposas se exprime, no pensamento dos índios, como a oposição entre o arco e o cesto;
a pedagogia dos guaiaqui se estabelece principalmente nessa grande divisão de papéis;
logo aos quatro ou cinco anos, o menino recebe do pai um pequeno arco adaptado ao seu tamanho; a partir de então ele começará a se exercitar na arte de lançar com perfeição uma flecha;
complementar é o destino da mulher; menina de nove ou dez anos, recebe de sua mãe uma miniatura de cesto, cuja confecção ela acompanha atentamente;
os guaiaqui apreendem essa grande oposição, segundo a qual funciona a sua sociedade, por meio de um sistema de proibições recíprocas: uma proíbe as mulheres de tocarem o arco dos caçadores, outra impede os homens de manipularem o cesto;

adaptado de clastres, pierre: o arco e o cesto, 1966



restrições 2

os gêneros feminino e masculino
um dos temas mais destacados pelos educadores indígenas foi o da divisão social do trabalho ou da diferença de gêneros (masculino/feminino) na socialidade indígena e nas práticas de aprendizagem próprias dessas culturas;
nas práticas culturais indígenas os homens ensinam os meninos e as mulheres às meninas;
as práticas de aprendizagem indígenas ainda prevêem rituais de passagem à vida adulta, específicos de cada gênero, e iniciações que definem conhecimentos especializados dos iniciados, sejam homens ou mulheres;
esse problema não está previsto no 'ensino de artes ocidental'; trata-se de um dilema do educador enquanto mediador de culturas;
a escola diferenciada indígena faz essa função de mediação com o universo dos conhecimentos ocidentais, produzindo, a partir daí, um novo conhecimento;


atividade
escreva sobre como você e sua comunidade vêem e trabalham essa questão na comunidade;